Palavra por Palavra, de Anne Lamott, é um livro indispensável para todos os que têm adiado a decisão de escrever. Escrever é enfrentar o mundo — uma palavra de cada vez. Anne Lamott mostra-nos como.
Se acredita que chegou o momento de pôr mãos à obra, leia os conselhos da autora.
Continuo a encorajar todos os que se sentem minimamente impelidos a escrever que o façam. Tento apenas alertar as pessoas que aspiram a ser publicadas que a publicação
não é tudo aquilo que se imagina. Mas escrever é. A escrita tem tanto para dar, tanto para ensinar, tantas surpresas. Aquela coisa que tivemos de nos obrigar a fazer — o próprio ato de escrever — acaba por ser a melhor parte. (pág. 28)
Passe para o papel tudo aquilo de que se lembrar, hoje, acerca dos seus pais, irmãos, familiares e vizinhos; lidaremos com a questão da difamação mais adiante. (pág. 39)
O primeiro rascunho é o rascunho da criança, em que pomos tudo cá para fora e depois deixamos que as coisas se espalhem por todo o lado, sabendo que ninguém vai ver o que escrevemos e que podemos dar-lhe forma mais tarde. (pág.53)
Quase toda a boa escrita começa com primeiras tentativas horríveis. É preciso começar por algum lado. Então, comece por pôr qualquer coisa — seja o que for — no papel. (pág. 56)
O enredo emerge das personagens. Se se concentrar em quem são as pessoas da sua história, se se sentar e escrever sobre dois indivíduos que conhece e que está a conhecer melhor de dia para dia, alguma coisa vai acontecer. (pág. 81)
Um bom diálogo dá-nos a sensação de que estamos a escutar uma conversa alheia, de que o autor não se está a intrometer. Assim, um bom diálogo engloba tanto o que é dito
como o não dito. O que não é dito fica pacientemente do lado de fora da porta encravada do elevador, ou anda às voltas em redor dos pés das personagens dentro do elevador, como ratazanas. (pág. 91)
O jardim é uma das duas grandes metáforas da humanidade. A outra, claro, é o rio. As metáforas são uma ótima ferramenta linguística, pois explicam o desconhecido em termos de desconhecido. (pág. 99)
Convém lembrar que o perfeccionismo é a voz do opressor. (pág. 113)
Para sermos bons escritores, não só temos de escrever muito, como também precisamos de nos importar com qualquer coisa. Não é preciso termos uma filosofia moral completa. Mas, do meu ponto de vista, um escritor tenta sempre ser parte da solução, compreender um pouco da vida e transmitir esse conhecimento. (pág. 125)
Uma posição moral não é um slogan ou um desejo. Não vem de fora ou de cima. Começa no coração de uma personagem e cresce a partir daí. Diga a verdade, escreva sobre a liberdade e lute por ela, como puder, e será profusamente recompensado. (pág. 127).
Palavra por Palavra não é apenas um livro sobre escrita — é um abraço honesto, bem-humorado e profundamente humano a todos os que tentam transformar o caos interior em palavras. Anne Lamott partilha conselhos práticos, histórias pessoais e verdades desconcertantes com uma voz que é simultaneamente honesta e generosa. É como ouvir uma amiga sábia (e um pouco sarcástica) a dizer-nos que sim, escrever é difícil — mas também pode ser libertador, engraçado e, às vezes, extremamente poderoso. Avance, sem medos, palavra por palavra!
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