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Conheça as personagens do escritório - Alma dos Livros

Conheça as personagens do escritório

Quer já tenha entrado ou não no escritório, não deixe de saber quem são os colaboradores da Vixed. Um deles pode muito bem ser o responsável pelo misterioso desaparecimento da estranha contabilista da empresa. 

Natalie - É a melhor vendedora da Vixed. Trabalha no cubículo ao lado da Dawn, a nova contabilista da empresa. É bonita, popular e vistosa. Nunca sai de casa sem os seus luxuosos sapatos vermelhos.

Dawn - Tem uma obsessão por tartarugas, as suas refeições incluem sempre alimentos de uma única cor e vive sozinha. Dawn Shiff é uma mulher estranha, pelo menos aos olhos dos seus colegas da Vixed.

Mia - Aparentemente, é a única amiga de Dawn, com quem se corresponde online. As suas trocas de emails são cruciais para a investigação do misterioso desaparecimento de Dwan. 

Seth - É o diretor da sucursal da Vixed em Boston. Tem quarenta e tal anos e um casamento à beira do colapso. Adora a sua principal vendedora e tem uma relação pouco cordial com a nova contabilista. 

Caleb - É o namorado incrivelmente giro da Natalie, mas ainda não dormiram juntos. Embora não esteja na empresa todos os dias, foi contratado há alguns meses para atualizar o site da Vixed. Todos gostam dele.

Depois de apresentações feitas, não perca tempo e leia já as primeiras páginas.

Prólogo

UM DIA ANTES

Para: Seth Hoffman
De: Dawn Schiff
Assunto: IMPORTANTE
 
Caro Seth,
Tomei conhecimento de uma questão sensível que preciso de discutir consigo urgentemente. Gostaria de solicitar uma reunião no seu escritório o mais cedo que lhe for possível.
 
Com os melhores cumprimentos,
Dawn Schiff
 
***
Para: Dawn Schiff
De: Seth Hoffman
Assunto: Re: IMPORTANTE
 
Claro, tudo bem. Passe pelo meu escritório.

 ***

Para: Seth Hoffman
De: Dawn Schiff
Assunto: Re: IMPORTANTE
 
Caro Seth,
Preferia marcar uma hora, para garantir que estará presente na altura da reunião e que temos o tempo adequado para discutir algumas informações potencialmente perturbadoras que me sinto na obrigação de partilhar. Não gostaria de ter de interromper uma discussão tão importante por ter um compromisso anterior. Ou, pior, chegar ao seu escritório para constatar que não está lá de todo. Sentir-me-ia muito mais confortável se agendássemos uma reunião. Posso verificar a sua agenda, cruzá-la com a minha e apresentar seis marcações possíveis para as próximas 48 horas em que seria conveniente para ambos encontrarmo-nos; pode então salientar duas dessas horas que resultem melhor para si e podemos chegar a acordo sobre uma hora final que seja conveniente para ambos.
Com os melhores cumprimentos,
Dawn Schiff
 
***
Para: Dawn Schiff
De: Seth Hoffman
Assunto: Re: IMPORTANTE
 
Que tal amanhã às 2?
 
***
Para: Seth Hoffman
De: Dawn Schiff
Assunto: Re: IMPORTANTE
 
Seguem os pormenores da nossa reunião agendada:
Local: escritório de Seth Hoffman
Hora: 14h00
Adicionei-a à minha agenda.
 
Com os melhores cumprimentos,
Dawn Schiff

 

PRIMEIRA PARTE
1   
NATALIE   

 PRESENTE

       A Dawn não está à sua secretária esta manhã quando entro no escritório, o que significa que o mundo está para acabar.
       Estou a brincar. É óbvio que o mundo não está para acabar. Mas, se conhecessem a Dawn, perceberiam.
       Durante os últimos nove meses, a Dawn Schiff ocupou o cubículo ao lado do meu na Vixed, a empresa de suplementos nutricionais onde ambas trabalhamos. Podíamos acertar o nosso relógio pelas suas rotinas. Às 8h45, está à sua secretária. Às 10h15, faz uma pausa para ir à casa de banho. Às 11h45, vai à sala de descanso almoçar. Segue-se outra pausa para ir à casa de banho às 14h30. E, às 17h00 em ponto, desliga o computador e sai do trabalho. Se houvesse algum tipo de acontecimento pós-apocalíptico em que todos os relógios do mundo se avariassem, podíamos retomar todos o horário só de observar as idas da Dawn à casa de banho. Ao segundo.
       Geralmente, chego ao trabalho algures na janela de trinta minutos entre as oito e meia e as nove. Bem, nove e trocos. Se tudo correr bem, chego às 8h30. Mas, embora jure que deixo as minhas chaves no mesmo local todos os dias – na mesa junto à porta da frente –, às vezes, durante a noite, parece que elas se levantam e se afastam para algum lugar. E então tenho de as procurar.
       Ou então apanho trânsito. Tanto trânsito. A Dorchester Avenue é um parque de estacionamento durante a hora de ponta.
      Esta manhã, os semáforos não estavam a meu favor, mas o trânsito era esparso, pelo que, às nove menos dez, entro na grande área de escritórios que alberga a Vixed. Atravesso as filas de cubículos idênticos enfiados ao centro da sala, os meus tacões vermelhos a matraquear contra o chão de linóleo, as luzes fluorescentes a piscar sobre a minha cabeça. Ao passar pelo cubículo da Dawn a caminho do meu, já de mão erguida em cumprimento, paro bruscamente.
       O cubículo está vazio.
       Por mais estranho que seja o horário da Dawn, é ainda mais estranho que hoje não o esteja a seguir. Não posso deixar de pensar que a sua ausência é um mau agoiro. Afinal, a Dawn nunca se atrasa. Nunca.
       – Natalie! Ei, Nat! Adivinha só!
       Desvio bruscamente o olhar do cubículo da Dawn ao ouvir o som da voz da Kim. Vem a saltitar pela ala de cubículos, o rosto bronzeado radiante.
       A Kim Healey é a minha melhor amiga no trabalho, o que infelizmente quer dizer que é a minha melhor amiga em geral, pois o trabalho tem vindo a tornar-se cada vez mais toda a minha vida. Regressou há duas semanas da lua de mel e tem o mais espetacular dos bronzeados, além de madeixas no cabelo anterior- mente castanho-escuro – até ainda cheira ligeiramente a areia e protetor solar. Está com um aspeto fantástico, e eu estou muito feliz por ela. E só, tipo, dez por cento ciumenta. A sério, desejo-lhe genuinamente toda a felicidade do mundo, tal como disse no meu ligeiramente ébrio brinde nupcial.
       Passo os olhos pelo vestido Ann Taylor estampado a preto e branco da Kim, notando uma protuberância reveladora.
       – Estás grávida! – arquejo.
       O sorriso desvanece-se instantaneamente do seu rosto.
       – Não. Não estou grávida. Porque haverias de dizer isso? – Puxa o laço apertado acima da sua cintura. – Achas que este vestido me faz parecer gorda?
       – Não! Oh, Kim, é claro que não! – Em minha defesa, a forma como ela disse adivinha só deu mesmo a impressão de que ia anunciar um bebé. Ultimamente, as mulheres da minha idade parecem andar a anunciar gravidezes por todos os lados, como se fosse a única notícia empolgante que têm para partilhar. E é verdade que ela voltou recentemente da lua de mel... – De todo. Peço imensa desculpa por ter dito isso. Pensei só que...
       A Kim continua a puxar o seu vestido, insegura.
       – Por alguma razão deves ter dito isso.
       Dou-me mentalmente uma palmada na cabeça.
       – Não é verdade, juro. E, seja como for, toda a gente ganha uns quilinhos durante a lua de mel. Ficam-te lindamente.
       Mas ela nem me está a ouvir. Está demasiado ocupada a esticar
o pescoço para tentar olhar para o próprio rabo.
       Pigarreio.
       – Então, hã, o que me querias dizer?
       – Oh! – Esboça um sorriso ténue, o entusiasmo inicial esmorecido. – Chegaram as T-shirts. Pu-las na sala de reuniões.
       Oh, isso são boas notícias! Sigo a Kim até à sala de reuniões, onde, de facto, está uma caixa de papelão ligeiramente amolgada à espera ao canto. Vou direita a ela e abro as abas.
       – Verificaste?
       – Dei uma olhadela. Não fiz uma contagem completa.
       Revolvo a caixa atafulhada de T-shirts e tiro uma. É azul-petróleo e contém toda a informação necessária. Corrida solidária de cinco quilómetros. A favor da investigação da paralisia cerebral. A camisola é um tamanho médio e parece ser mais ou menos o certo. Estava nervosa com os prazos – era suposto as T-shirts terem chegado na semana passada e já é terça-feira. A corrida que estou a organizar é no sábado.
       – Estão lindas, Nat – murmura a Kim. Tem sido uma motivadora tão incrível na organização desta corrida. Não teria conseguido sem ela. – Podemos distribuí-las mais ao fim da manhã, quando estiverem todos aqui.
       Anuo, aliviada por estar a correr conforme o planeado.
       – A propósito – acrescento. – Sabes se a Dawn avisou que ia faltar por doença?
       A Kim ergue uma T-shirt para o peito, alisando-a sobre o abdómen, que continua a parecer-me um pouco uma barriguinha de grávida.
       – Não. Porquê?
       – Bem, não está aqui.
       – E então? Está atrasada.
– Não compreendes. – Largo as T-shirts na caixa de papelão. – A Dawn nunca se atrasa. Nunca. Nem uma vez em todo o tempo que aqui trabalhou. Está sempre cá às oito e quarenta e cinco.
       A Kim olha para o relógio e depois de novo para mim, como
se eu tivesse perdido o juízo.
       – Então está vinte minutos atrasada. E daí?
       É um comportamento estranho da parte da Dawn. Além disso, não partilhei com a Kim um outro detalhe. Ontem à tarde, a Dawn enviou-me um e-mail estranho a perguntar se podia falar com ela ao fim do dia sobre um «assunto de grande importância». Mas passei a maior parte da tarde numa visita comercial e, quando regressei ao escritório, já ela tinha saído.
       Um assunto de grande importância. Pergunto-me se seria sobre... Não. Provavelmente não.
       – Espero que esteja bem. – Abano a cabeça. – Talvez tenha tido um acidente.
       A Kim ri-se.
       – Ou talvez tenha finalmente sido internada.
       – Para – murmuro eu. – Isso é cruel.
       – Vá lá. É uma esquisitoide e sabes isso melhor do que ninguém.
       És tu quem tem de se sentar ao lado dela.
       – Não é assim tão má.
       – Não é assim tão má! – exclama a Kim. – É como partilhar o escritório com um robô. E que obsessão é aquela por tartarugas? Tipo, quem se interessa assim tanto por tartarugas?
       Pronto, não vou dizer que a Dawn não é um pouco estranha. Ou muito estranha, até. Há alturas em que as pessoas da empresa gozam com ela nas suas costas. E sim, gosta mais de tartarugas do que qualquer ser humano adulto deveria gostar. Mas é muito boa pessoa. Se a conhecessem um pouco melhor, seriam mais simpáticos para ela.
       Não que eu a conheça muito bem. Sempre tive intenção de a convidar para jantar um dia destes, mas nunca cheguei a fazê-lo. Há um par de semanas, quando íamos a descer no elevador numa sexta-feira à noite, perguntei-lhe casualmente se tinha planos e ela pareceu chocada com a questão. Vou só jantar em casa. Sozinha. Tê-la-ia convidado para jantar comigo, mas ia encontrar-me com o meu namorado e teria sido estranho se ela se juntasse a nós.
       Vou convidá-la para jantar. Sem dúvida. Assim que despacharmos a corrida.
       – Enfim, é melhor voltar ao trabalho. – A Kim lança um olhar ao relógio. – Não sou a menina Vendedora do Mês, como algumas pessoas.
       As minhas faces coram ligeiramente. É certo que as minhas vendas são melhores do que as de qualquer outra pessoa na empresa, mas mato-me a trabalhar para isso.
       – Casaste-te este mês. Tens uma desculpa, desta vez, para as vendas baixas.
       – Sim, sim. – A Kim encolhe os ombros, pois não se importa assim tanto. O novo marido é podre de rico. Algures num futuro próximo, quando engravidar realmente, poderá pedir a demissão e não olhar para trás. – Enfim, boa sorte com as T-shirts. Vemo-nos mais tarde.
       Depois de a Kim partir, possivelmente em direção ao seu cubículo, mas mais provavelmente rumo à sala de descanso para tomar a sua terceira ou quarta chávena de café, fecho as abas da caixa de T-shirts e regresso ao meu cubículo. Ao chegar, deparo-me com algo na minha secretária que não tinha visto antes.
       Uma estatueta de tartaruga.
       É pequena – não ultrapassa a extensão do meu indicador –, verde e azul, com os padrões geométricos na carapaça a brilhar às luzes fluorescentes do teto. Tem a cabeça levantada e fita-me com os seus lustrosos olhos negros.
       Há algum tempo, a Dawn ofereceu-me entusiasticamente uma estatueta de tartaruga para o meu cubículo. Foi muito querido da sua parte e senti-me pessimamente quando a tartaruga caiu ao chão e se despedaçou numa dúzia de minúsculos pedaços. Mas essa tartaruga nunca foi substituída. E era diferente da que está agora na minha secretária.
       Pego na estatueta da tartaruga e reviro-a entre os dedos, sentindo a superfície lisa. O que faz esta tartaruga aqui? Quem a pôs cá?
       Terá sido a Dawn?
       Mas não é possível. Quando regressei ao escritório ontem ao fim do dia, ela já tinha saído. E ainda não parece ter chegado. Como poderia então ter posto esta tartaruga na minha secretária?
       Quando volto a pousar a estatueta, vejo uma mancha nos meus dedos. Algo vermelho-escuro me passou para a mão ao pegar na tartaruga. Olho para a minha palma, tentando perceber em que foi que acabei de tocar. Não pode ser tinta, pois a tartaruga é verde. Ketchup?
       Não, não pode ser. É demasiado escuro e não é pegajoso. E não tem aquele cheiro doce. Tem um cheiro quase... metálico.
       O que é isto?
       Enquanto examino a substância vermelho-escura que se acumulou nos sulcos das minhas impressões digitais, apercebo-me vaga- mente de um telefone a tocar por perto. Vindo do cubículo da Dawn.
       Regresso ao cubículo da Dawn, ficando a rondar junto à entrada. Continua vazio. Será possível que tenha chegado mais ao início da manhã e esteja na casa de banho ou assim? Deve estar aqui e deve ter sido ela a pôr aquela tartaruguinha na minha secretária, apesar de o seu casaco não estar pendurado nas costas da cadeira. E de o monitor do computador estar apagado – sem proteção de ecrã, simplesmente negro.
       O telefone na sua secretária continua a tocar. Geralmente, o número de quem está a ligar pisca no ecrã, mas não desta vez. É um número privado.
       Tiro o telefone do descanso. Não é tarefa minha atender o telefone da Dawn, mas, se estiver ausente por doença, posso ao menos tentar tratar de quaisquer questões que tenham surgido. Estou certa de que a Dawn faria o mesmo por mim. Tenta sempre ajudar os outros, quase de forma excessiva.
       Pergunto-me sobre o que me quereria ela falar ontem. Um assunto de grande importância. Vindo da Dawn, isso pode ser praticamente tudo, desde um pacote de leite sujo no frigorífico a um diagnóstico de cancro terminal. Não há razão para preocupação.
       – Secretária de Dawn Schiff – atendo.
       Do outro lado da linha, ouve-se silêncio. Soa quase como uma respiração entrecortada.
       – Estou? – digo eu. – Está aí alguém?
       Mais silêncio. Quando estou prestes a desligar, uma voz feminina atormentada profere uma palavra que faz um arrepio gélido descer-me pela espinha:
       – Socorro.
       E então a chamada cai.
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