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Margarida Rebelo Pinto regressa ao romance contemporâneo. - Alma dos Livros

Margarida Rebelo Pinto regressa ao romance contemporâneo.

A Grande Ilusão explora o vazio sentido por uma geração que tem tudo, mas se sente cada vez mais só. O que a inspirou a abordar este tema?

Desde que comecei a escrever romances que falo com dezenas de pessoas sobre temas que me parecem importantes, pois são temas que afetam o bem-estar, e a vida das pessoas em geral. Também, graças às redes sociais, tenho acesso a várias histórias e experiências que os meus seguidores generosamente partilham comigo. Desde a invasão das redes sociais na vida quotidiana, há mais de uma década, que sinto as relações afetivas a deteriorarem-se cada vez mais. Para este romance, fiz uma lista de problemas e reconheci-os ao meu redor, quer nos meus amigos quer nos meus seguidores, e percebi que todos tinham um denominador comum: a solidão. Todas as personagens deste livro lutam, à sua maneira, contra a solidão. Algumas também lutam contra o tempo, outras lutam para aceitar a realidade. A teia de relações e sentimentos que criam entre elas é, na minha opinião, um espelho que reflete o modo como as pessoas da minha geração olham para a vida, para o passado, para o futuro, e para o amor.

As protagonistas, Bárbara e Rita, vivem dilemas amorosos muito distintos. Como foi construir estas personagens e as suas aprendizagens emocionais?

Perante um desgosto de amor, só há dois caminhos: ou esperar, até passar a dor, a tristeza, o vazio e o sentimento, ou então avançar até conseguir que o passado seja substituído por uma nova realidade. Fiz propositadamente a distinção entre as duas, embora tenham vivido o mesmo tipo de relação, uma relação impossível, para marcar essa diferença. Não podemos escolher quem se cruza na nossa vida, mas podemos decidir como atuar em relação às pessoas que se cruzam connosco. Nós temos o poder de decidir até que ponto as pessoas afetam ou não a nossa vida.

O romance fala de relações amorosas, mas também de dinâmicas familiares e da parentalidade. Acredita que estes temas estão mais presentes na sua escrita hoje do que no início da sua carreira?

Os temas da parentalidade, aliás, os temas das relações familiares são uma constante em toda a minha obra, em todos os romances as famílias das personagens influenciam a forma como elas olham para o mundo e as escolhas que fazem. Ao longo da minha obra, essa foi sempre uma questão fundamental porque acredito que a família é a base da sociedade, e uma família saudável e feliz cria pessoas seguras e otimistas. Tenho um filho de 29 anos, por isso é normal que nos últimos 15 anos tenha refletido mais sobre as questões da adolescência do que da primeira infância, porque todos os escritores se baseiam na sua realidade para refletirem sobre as questões que os preocupam. 

Este livro marca a sua estreia na editora Alma dos Livros. O que significa para si esta nova fase?

A mudança faz parte da vida, e quem tenta lutar contra ela não só não consegue, como fica frustrado. A minha entrada na Alma dos Livros representa uma nova fase da minha vida enquanto escritora: é uma equipa mais jovem do que eu, muito dinâmica, apaixonada pelo seu trabalho, que soube conquistar o seu lugar no mercado e tem uma relação muito próxima e muito querida com os seus leitores. Eu também me relaciono com os meus leitores de uma forma próxima, informal e afetiva. Estou muito feliz com esta mudança, é preciso abraçar as mudanças, porque a mudança é uma constante da vida.

A sua escrita tem acompanhado diferentes gerações de leitores. Que mensagem espera que A Grande Ilusão transmita a quem o ler?

Em primeiro lugar, espero que o meu livro ecoe no coração e no espírito de muitos leitores que se sentem sós. Espero que as pessoas se revejam nas minhas personagens e percebam que a solidão é uma erva daninha que chega a toda a gente, de uma forma ou de outra. Depois, gostaria que os meus leitores olhassem um pouco para dentro de si próprios, e fizessem um caminho de aceitação, porque a capacidade de autoaceitação é fundamental para podermos ser tolerantes e aceitar os outros como eles são.

Com dezenas de livros publicados e uma carreira consolidada, o que ainda a desafia e motiva na escrita?

Tudo, tudo me desafia. Sempre quis ser escritora, e a vida mostrou-me que sou muito mais feliz quando estou a escrever do que quando não estou. Não acredito em escritores a tempo parcial, a escrita é uma paixão, uma missão, é um modo de vida. Eu gosto muito de escrever, mas não escrevo porque quero, escrevo porque eu preciso. E é muito gratificante sentir que consigo chegar a dezenas ou centenas de milhares de pessoas com as minhas palavras.

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